No primeiro texto escrito totalmente por ele, Francisco
ataca sistema capitalista, classificando-o como "nova tirania"
SÃO PAULO/FOLHAPRESSO papa Francisco defendeu a reforma da Igreja Católi ca e a inclusão de iniciativas que diminuam a riqueza e a hierarquia do Vaticano em sua primeira exortação apostólica, divulgada ontem pelo Vaticano.
No texto, o pontífice ainda defende a posição contra o aborto e critica a "tirania" do capitalismo. É o maior plano de reforma da Igreja nos últimos 50 anos.
Chamada de "Evangelii Gaudium" ("A Alegria do Evangelho"), a exortação apostólica é o primeiro documento papal inteiramente escrito por Francisco.
O texto usa um estilo próximo à pregação, no que difere da escrita acadêmica de seu antecessor, o papa emérito Bento 16.
Reforma. O papa Francisco convidou o clero a fazer uma reforma profunda das instituições eclesiásticas, de modo que a Igreja "se torne mais fiel ao sentido que Jesus Cristo quis dar-lhe e às necessidades atuais da evangelização".
Ele disse estar aberto a sugestões de reforma para o que chamou de "conversão pastoral".
"Prefiro uma Igreja Católica arranhada, ferida e suja porque veio das ruas que uma instituição doente por estar confinada e agarrada à sua própria segurança", disse, criticando ainda a insistência de sacerdotes em expor as doutrinas e a centralização do Vaticano que, para ele, atrapalha o trabalho missionário.
O pontífice ainda citou o papa João Paulo 2º, morto em 2005, a quem disse ter pedido para ajudar a encontrar uma nova forma de exercício da liderança eclesiástica por considerar que houve pouco avanço nos últimos anos.
O pontífice também defendeu o uso de formas novas para o ensino do Evangelho, usando "novos caminhos e métodos criativos".
"Não devemos encerrar Jesus nos nossos esquemas chatos porque um anúncio renovado oferece aos crentes, aos mornos e aos não praticantes uma nova alegria na fé e uma fecundidade evangelizadora", disse o Santo Padre.
Pobreza. Francisco defendeu ainda reformas como forma de aumentar a ação eclesiástica para diminuir a exclusão social e a desigualdade. Para o pontífice, ambas situações geram violência no mundo e podem provocar uma explosão.
"Até que não se revertam a exclusão e a iniquidade dentro de uma sociedade e entre os distintos povos será impossível erradicar a violência."
Nesse sentido, atacou o sistema capitalista, ao qual chamou de "nova tirania" e pediu aos líderes globais que lutem para diminuir a pobreza, a desigualdade social e as diferenças de desenvolvimento entre os países.
"Enquanto os problemas dos mais pobres não forem radicalmente resolvidos através da rejeição da absoluta autonomia dos mercados e da especulação financeira, atacando as causas estruturais da desigualdade, não encontraremos solução para os problemas do mundo ou para muitos problemas", afirmou o papa Francisco em sua encíclica.
DESCENTRALIZAção
"(...) alerto para a necessidade de proceder a salutar descentralização (...) Uma centralização excessiva, ao invés de ajudar, complica vida da Igreja e sua atribuição missionária"
mudanças
"(...) a Igreja pode até chegar a reconhecer que certos costumes próprios não são diretamente ligados ao núcleo do Evangelho (...), normas e preceitos eclesiais que podem ter sido muito eficazes em outras épocas, mas que não têm mais a mesma força educativa
eucaristia para todos
"A Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um generoso alimento e um remédio para os fracos"
sacerdócio feminino
"A reivindicação dos legítimos direitos das mulheres (...) não pode ser deixada de lado superficialmente. O sacerdócio reservado aos homens (...)não se coloca em discussão, mas pode se tornar motivo de especial conflito quando se identifica em demasia a posição sacramental com o poder"
aborto
"Não é progressista pretender resolver os problemas eliminando uma vida humana "
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