Presidente da República do Brasil, Dilma Rousseff (à esquerda), ao lado da CEO da GM, Mary Barra
Por Lucas Litvay / Projeção: João Kleber Amaral
A General Motors acaba de anunciar em Brasília investimento de R$ 6,5 bilhões no País a serem gastos entre 2014 a 2018. No comunicado, a empresa diz que o aporte será destinado ao desenvolvimento de novos produtos e tecnologias e na formação de empregados, além da ampliação do índice de localização de componentes.
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TRÊS MODELOS
Boa parte do plano bilionário será gasto no desenvolvimento de uma nova família de carros compactos. Será o projeto mais grandioso e ambicioso da Chevrolet na década. Ao todo, R$ 2 bilhões serão injetados na criação dos modelos que em três anos irão aposentar os atuais Celta e Classic. “Já está decidido que haverá um hatch e um sedã compacto”, antecipa uma fonte que deixa escapar que a marca trabalha na hipótese de produzir um SUV compacto sobre a mesma plataforma. “O brasileiro demonstra interesse pelos SUV’s pequenos, como mostram nossas pesquisas.” O modelo será baseado no conceito Adra, mostrado este ano no Salão de Nova Déli, na Índia.O futuro compacto ainda não tem nome definido, nem apelido. Chegaram a cogitar Projeto Jade e Projeto Âmbar, mas fontes ligadas à marca negam a existência de tais nomes. “Na fase de desenvolvimento, usamos nomes variados junto aos fornecedores para despistar vocês, jornalistas.” Mas informações vazam. Como, por exemplo, a de que o futuro compacto (e sua família) usarão uma plataforma inédita, com volume de produção estimado de 1,2 milhão de veículos em todo o mundo . “Garanto que não será a do Onix. O Onix é o carro mais barato que conseguimos fazer sobre essa arquitetura”, explica outro informante. Está aqui, a propósito, o principal desafio da engenharia da Chevrolet neste projeto. Criar uma arquitetura moderna e boa o bastante – mas barata. Para isso a empresa reforçou o time. Hoje, são 2.000 engenheiros e 600 pessoas trabalhando no Centro de Design da marca no País. “Foi a força dessa equipe que credenciou o Brasil a liderar o projeto”, diz uma fonte. “O Brasil, aliás, foi escolhido pela matriz como líder de desenvolvimento de todos os carros para países emergentes. “Ao contrário dos atuais Classic e Celta, os futuros compactos serão vendidos (e fabricados) em outros mercados fora da América do Sul, como China, Índia e Rússia.”
CARRO COMPLETO
O carro que ilustra essas páginas é a nova geração do Chevrolet Spark, vendido em quase todo o mundo, inclusive Europa, EUA e Ásia. E ele dá boa pista de como será o futuro compacto nacional. “É claro que já fizemos estudos sobre a produção do Spark no Brasil. Mas ele tem custo alto de produção, o que o deixaria com preço pouco competitivo. Além disso, ele é o que chamamos de city car, ou seja, muito pequeno para o que o brasileiro espera de um compacto”, explica uma fonte. Que vai além: “As más vendas do Volkswagen Up mostram mais uma vez que city car no Brasil não funciona.” A estratégia da Chevrolet com o futuro compacto é oposta – e mais próxima, digamos, ao da Renault e seu Sandero. “Faremos o maior carro possível com esse preço e essa nova arquitetura. Bom espaço (para passageiros e bagagem) é fator determinante de compra.”O preço também é importante: a estratégia vem sendo montada para o carro custar menos de R$ 30 mil. E as fontes não escondem que aí está o principal nó do projeto. “Por conta da inclusão do airbag e ABS [exigências na nova legislação], as fábricas tiveram que depenar os carros. Mas não adianta, o brasileiro quer ar e direção ao invés de air bag e ABS. Portanto, o carro tem que ser completo. E isso dificulta ainda mais as contas fecharem.” A boa aceitação do sistema multimídia MyLink – presente em 80% das unidades vendidas do Onix – reforça a percepção da marca que o brasileiro quer um carro completo, mas com preço capaz de ser pago mesmo em um financiamento a longo prazo.
PADRÃO DE DESIGN
A importância do novo Spark para o compacto nacional é que ele exibe a próxima identidade visual da Chevrolet. Ou seja, antecipa, em boa medida, as linhas do futuro modelo brasileiro. Retorne à página anterior e veja que a novidade aposenta a grade dianteira bipartida com o logotipo da marca no centro, padrão usado em todos os carros da Chevrolet na última década. “A moda é outra. Com linhas marcantes, mas ao mesmo tempo elegantes”, diz uma fonte ligada à área. “Sim, adotaremos o mesmo padrão em todos os carros”, antecipa. “No entanto, cada carro e cada mercado terá suas particularidades. Mas é importante que o consumidor identifique um Chevrolet logo de cara.”O novo padrão de design é marcado por uma fina entrada de ar dianteira, com o logotipo no meio, em contraposição à enorme entrada de ar no para-choque de formato hexagonal. Os faróis ficarão mais afilados, enquanto a lateral contará com dois, às vezes, três vincos para reforçar a sensação de movimento.
Diferente da concorrência, a GM brasileira não planeja um motor de três-cilindros para seus carros de entrada. As fontes não confirmam, mas o valor alto de desenvolvimento (e a necessidade de segurar os custos para o carro não ultrapassar os R$ 30 mil) são o motivo de tal decisão. “Há outras maneiras mais inteligentes e eficientes para atingirmos às normas de consumo e emissão impostas pelo Inovar-Auto”, explica um interlocutor. Quem apostar numa nova geração de câmbio – tanto manual como automático – com mais marchas tem chance de acertar. “Hoje, o Onix já é o carro mais vendido no País sem contar as compras de locadoras, algo que estamos fora por conta do baixo retorno. O sucesso se repetirá com o novo compacto”, diz, otimista, uma fonte. “Vamos apresentar um compacto sem igual no segmento: bonito, espaçoso e econômico.” Os próximos cinco anos começam agora.
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